CUSTO DA SAÚDE

O custo da saúde privada deve pressionar ainda mais o custo da saúde pública no país. Ano passado, a inflação médica bateu em 19,5%, quase o dobro dos 10,71% medido pelo IPCA, que determina a inflação geral do país. Foi a maior variação desde 2007. Para este ano, a previsão é similar: 20% de inflação médica, quase o triplo do IPCA projetado.
O resultado é um efeito em cadeia sobre empresas e usuários. As operadoras de planos de saúde precisam fazer esforços de redução de gastos, as empresas que as contratam buscam renegociar as condições e os beneficiários têm de arcar com uma fatia maior desse custo.

Nos últimos quatro anos, o custo médio mensal per capita de planos de saúde empresarial saltou 42%, de R$ 158,42 para R$ 225,23. Atualmente, as empresas que oferecem assistência saúde gastam o equivalente a 11,5% da folha de pagamento para sustentá-la. Como o percentual tende a crescer, muitas companhias têm buscado formas de reduzir esse gasto. As principais soluções têm sido a negociação de contratos, que inclui a busca de planos mais em conta, e o aumento do compartilhamento das despesas com os funcionários, que pagarão mais em coparticipação. Em outra frente, as empresas começam a investir em iniciativas de saúde preventiva.

As empresas chegaram no limite da economia, então a bola da vez são os programas de gestão de saúde. Atualmente, apenas 20% das empresas adotam programas com foco na prevenção e manutenção da saúde dos funcionários.

Outro efeito da alta dos custos é que os planos individuais e familiares, com preços regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, estão sumindo do mercado. Nesses planos, o reajuste tem ficado abaixo da inflação médica, tirando o interesse de quem os oferece. “Muitas operadoras nem têm oferecido planos individuais. Elas constatam que estão tendo prejuízos nesta carteira e em uma atitude racional deixam de oferecer o produto”, relata Antônio Carlos Abbatepaolo, diretor executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde.

Mais gente no SUS


Neste ano, o setor de saúde suplementar viu sua carteira de clientes diminuir 2,7% , com a saída de 1,3 milhão de usuários, em grande parte pessoas que perderam o emprego com o benefício. A maior parte dificilmente entrará em planos individuais, caros e com pouca oferta – hoje, quase 80% do mercado, que tem 48,8 milhões de clientes, se concentra em planos empresariais, que não têm preços regulados. Um fenômeno que aumentará a demanda por serviços no SUS.

Hospitais forçam consumo para aumentar fatura, diz pesquisa


Para o superintendente do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, toda a cadeia de saúde está orientada para o consumo em excesso. “O sistema hospitalar, de conta aberta, leva os hospitais a gerarem o máximo possível de consumo para elevar a conta paga pela operadora de plano de saúde”, afirma. Essa informação aparece em uma pesquisa do Insper encomendada pelo IESS para avaliar falhas no setor. O estudo diz que os sistemas de remuneração da prestação e serviços médicos incentivam o desperdício e o pouco cuidado com relação à eficácia e os custos de produtos e procedimentos.

“Não adianta incorporar uma tecnologia altamente dispendiosa que não traz benefícios para a saúde das pessoas. São mudanças sem efeitos perceptíveis nos resultados, mas de efeito dramático na multiplicação de preços”, diz o diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar, José Cechin.

Culpados

Estes são os principais fatores responsáveis pelo aumento dos custos na área médica:

Envelhecimento da população: a cada ano o custo cresce em média 3,4%
Inclusão de novos equipamentos e procedimentos a serem atendidos.
Modelo de remuneração da prestação de serviços que incentiva o desperdício.
Questões econômicas: câmbio e inflação geral.

Comentários